O amor nasce desde que somos sonhados, ainda sementes, no útero da nossa mãe e é continuamente desfragmentado, reestruturado e atualizado na dança de cada nova relação, até ao segundo em que o último impulso nos percorre.

O amor olha-nos, reconhece-nos nos sulcos da nossa íris, no grão da nossa pele… espelha-nos, define-nos. Um colo quente e pensante que nos limita e nos dá sentido, onde nós próprios nos aprendemos a pensar e reconhecer. Um colo onde o que sai de nós é desejado, recebido, pensado e traduzido para ser reintegrado e nos construir.

Só o amor nos permite sentir a força da vida, o prazer que nos faz ser… o próprio amor, pois precisamos de aprender o amor com um Outro, para que possamos também amar e amar-nos.

Amor não é o que nos mascara com o peso das idealizações, não é o que nos condena a cadeias de dor e silêncio, não é o que nos anestesia e aliena de nós próprios, não é o que nos curva a espinha para repetidamente nos abandonar, não é o que nos saqueia o tempo congelando-nos no segundo antes de ser feliz…

Amor é o que nos segura firmemente, aconchega e sossega e, depois de mimetizado de forma indelével no nosso coração, nos permite afastar para ampliar, abanar, progredir, cair, crescer, sabendo que podemos sempre voltar a encontra-lo, pelo menos dentro de nós.


Marisa Lourenço | Fevereiro, 2016